Serres, Karin

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Serres, Karin

(1967)

Karin Serres é autora e cenógrafa, formada pela École Nationale Supérieure des Arts et Techniques du Théâtre. Para além de cenários, a autora tem concebido igualmente figurinos, cartazes e ilustrações para diversos espetáculos. Escreveu cerca de quarenta textos de teatro, muitos deles dedicados ao público juvenil (Un tigre dans le crâne, Colza, La Nuit cranivore, Louise/les ours…), que têm sido objeto de leituras encenadas e/ou de criações não raras vezes dirigidas pela própria autora. Tem também multiplicado os jogos de escrita: escrita a várias mãos, escrita para rádio (Chambre froide, Óscar ô mon carosse, Olé Rosita!, La chose dans la poubelle…), cinema, contos infantis (Mongol, Lou la brebis…). De 2003 a 2004 foi autora associada no Théâtre de l’Est parisien, onde desenvolveu vários projetos de escrita. Atualmente, em colaboração com o Centro Cultural Sueco e com a SACD, está empenhada num projeto internacional de desenvolvimento e divulgação de teatro para a infância e juventude.

A sua relação com Portugal inicia-se graças ao projeto «Partir en écriture», do Théâtre de la Tête Noire (Saran – França), numa iniciativa de Patrice Douchet: seis autores franceses (entre os quais Karin Serres) escolhem um destino desconhecido onde se instalam em residência de escrita. Desta experiência resultam seis textos dramáticos cuja apresentação teve lugar no Théâtre de la Tête Noire, em 2007. Tendo escolhido Lisboa como destino, Karin Serres viajou até à capital portuguesa em Fevereiro de 2007 onde iniciou o seu trabalho de escrita. Em Maio de 2007, regressou a Portugal (Lisboa e Porto) a convite da Embaixada de França para participar num encontro sobre Literatura infantil e juvenil. Esta segunda visita terá sido decisiva para a conclusão da peça que viria a ter como título Marezïa. Situada no cais de Almada, à beira-Tejo, a ação apresenta-se fragmentada, obedecendo a um rigoroso processo de montagem de quadros e de imagens, com vista à construção de um vasto painel onde cerca de vinte personagens existem através da evocação contínua de cheiros, de sabores, de sons, de cores, na sua maioria inspiradas pelo elemento aquático.

Na temporada de 2009/2010, o Teatro Municipal de Almada leva a cena a peça de Karin Serres, numa encenação de José Martins, com a particularidade do cenário ser concebido pela própria autora. A tradução da peça, da autoria de Alexandra Moreira da Silva, contou com o apoio da Fondation Beaumarchais.

 

Passagens

Portugal, França.

 

Citações

O fim do fim do cais. Márcia está em pé, face ao rio, tem vestida uma gabardine beije cintada e óculos de sol no nariz.

MÁRCIA
E estou aqui à espera como um cão. A lamber a água das poças. Levanto a cabeça, uma onda rebenta contra o cais: encharcada. Sacudo-me, continuo com passos pequenos sobre o pavimento desordenado, engolida repentinamente pela sombra de uma porta enferrujada. Acreditaram em me? Sonharam.
(…)

Ela bate ligeiramente com a colher de café na chávena.

MÁRCIA
…ressoa na falésia, os rapazes voltam correndo ao longo do cais, Vasco, de mãos vazias mas com o olhar iluminado pelo horizonte…

LUÍS
E eu…

ÁLVARO
O horizonte, os chuviscos, o mar que o hipnotizaram…

LUÍS
E eu tenho…

ÁLVARO
O reflexo do sol na água que se balanceia, as grandes bofetadas da ressaca…

Márcia dá uma bofetada a Vasco. No terreno baldio, Luis leva a mão à cara.

MÁRCIA
E então o que é que vamos comer ao jantar? Vento?

LUIS (junto à água)
Sapos, m’zinha, ora vê! Pescados num charco!

Márcia começa a descascar uma tangerina.

(Marezïa, 2007)

 

Bibliografia Ativa Selecionada

SERRES, Karin (2007), Marzïa, tradução de Alexandra Moreira da Silva (publicação prevista para 2009/2010, Teatro Municipal de Almada).

 

Bibliografia Crítica Selecionada

DEROUIN, Claire (2005), «”Karin Serres”, (l’)auteur recommandée, entretien», Regards nº 4, Nova Villa, Reims, Mars, pp. 44-51.
GALEA, Claudine (2002), “Trois femmes”, in UBU, Scènes d’Europe, nº 24/25, Avril, pp. 57-59.

Alexandra Moreira da Silva (2011/11/18)