Poppe, Manuel

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Poppe, Manuel

(1938)

poppeminManuel Poppe Lopes Cardoso viveu parte da infância e da adolescência na Guarda e a essa cidade continua ligado por fortes laços e «memória dos afectos». Foi para Guarda em 1950 por razões de saúde, para tratar uma tuberculose pulmonar, e aí fez a quarta classe e a admissão ao Liceu. Em 1969 mudou-se para São João do Estoril. Foi colaborador efetivo do extinto Diário Popular, onde dirigiu, em colaboração com o jornalista Jacinto Baptista, o suplemento cultural “5ª feira à tarde”. Fundou, com outros autores, a revista O Tempo e o Modo. De 1972 a 1974 produziu o programa O Livro à procura do leitor, para a RTP. É colunista do Jornal de Notícias há 30 anos.

A 9 de Janeiro de 1975 foi nomeado Conselheiro Cultural junto da embaixada portuguesa em Roma. E, a partir dessa data, iniciou a sua «peregrinação» pelo mundo: visitou 4 países e 3 continentes. A sua primeira estadia em Roma, durante quinze anos, marcou profundamente Manuel Poppe, sobretudo, pelo facto de «deixar Portugal ainda ferido de quase cinquenta anos de obscurantismo e chegar a Itália», que vivia outras condições políticas. Durante essa passagem por Itália que o escritor português considera como «miscelânea, soma de sensações, de leituras e de encontros». Além de obter o título académico de “Dottore in Lingue e Leterature Straniere”, pela Universidade “La Sapienza”, com uma tese sobre Régio, escreveu Crónicas Italianas (1984), publicada com apoio do Instituto Italiano de Cultura em Portugal. Nessa passagem, conheceu personagens importantes, quer no campo da cultura quer no campo da política, entre os quais podemos destacar: o socialista De Martino e os comunistas Berlinguer e Giancarlo Pajetta, o democrata-cristão Enzo Scotti, escritores como Giorgio Bassani, Moravia e Claudio Magris, com os quais manteve relações estreitas e atrizes como Ingrid Thulin. Foi distinguido pelo antigo italiano presidente italiano Sandro Pertini com a comenda da Ordem de Mérito e pelas cidades de Florença e Veneza com as respetivas Medalhas de Ouro.

De Itália, seguiu para São Tomé, onde permaneceu 5 anos. Posteriormente, foi nomeado para outra missão diplomática em Telavive, que lhe proporcionou um grande conhecimento dos assuntos do Médio Oriente e a cultura israelita. Escreveu vários artigos para o Jornal de Notícias sobre a cultura israelita e sobre escritores como Nathan Zach, Amos Oz e Aron Appelfeld entre outros. Estando em Israel, ganhou, em 1995, o grande prémio da Crónica concedido pela Associação de escritores Portugueses. Na sua estadia em Israel, que durou 5 anos, além de publicar pequenas histórias em revistas literárias de prestígio, como Moznaim, Iton 77 e Mitan, escreveu a novela A Mulher Nua (1997) e o romance Sombras em Telavive (2001), que na apresentação das suas traduções para o hebraico contou com a presença de alguns escritores israelitas como Nathan Zach e Amir Aharon.

Poppe salienta, em várias entrevistas, a importância da deslocação na sua escrita, isto é, fruto de experiências que ele viveu no espaço estrangeiros, mas, em que sobressai, sobretudo, o contacto com as pessoas dos lugares por onde passou. Por exemplo, Shiri, a jovem de Sombras em Telavive, era, na realidade, uma menina que trabalhava num café em Telavive que ele conhecia. Ainda em Israel escreveu Memórias, José Régio e outros escritores (2001) e A tragédia de Manuel Laranjeira (2002). Depois da sua missão diplomática no Médio Oriente deslocou-se ao Magreb, mais concretamente a Marrocos, como conselheiro cultural na Embaixada de Portugal em Rabat, onde permaneceu durante dois anos. Dessa curta experiência escreveu Um Inverno em Marraquexe (2004), obra na qual, outra vez, a figura feminina ganha destaque. Nesta obra demonstra como a jovem marroquina, de origem bebere, quis ser livre, dona de si própria e das suas escolhas para o bem e para o mal.

 

Passagens

Portugal, Itália, S. Tomé, Israel, Marrocos.

 

Citações

Uma vez, num jantar em nossa casa, em Rabat, alguém me perguntou qual o país de que viria a ter mais saudades. Respondi-lhe: “Não sei. Terei saudades de todos”. Era sincero: é verdade. Se a viagem depende do viajante, do modo como a assume e se entrega, o viajante também é o resultado da viagem. Penso que seria outro e os meus livros e a minha atitude cívica seriam outros, se não tivesse feito o percurso que fiz. (2008)

 

Bibliografia Ativa Selecionada

Poppe, Manuel (1984), Crónicas Italianas, Lisboa, DIFEL, Instituto de Cultura Italiano em Portugal.
—- (2001), Sombras em Telavive, Lisboa, Teorema.
—- (2004), Um Inverno em Marraquexe, Lisboa, Teorema.

 

Bibliografia Crítica Selecionada

SALEMA, Álvaro (1986) “Itália vivida [crítica a ‘Crónicas Italianas’, de Manuel Poppe]”, in Revista Colóquio/Letras, nº 91 (Maio).

Abdelilah Suisse (2011/11/18)